"Região da Cracolândia permanece vazia uma semana após dispersão de usuários; patrulhamento da GCM também é reduzido"

 

Cracolândia permanece vazia uma semana após dispersão; número de GCMs também é reduzido

A área onde costumava se concentrar o chamado "fluxo" de usuários de drogas na região central de São Paulo segue deserta, mesmo uma semana após amanhecer vazia pela primeira vez. Nesta terça-feira (20),o local registrou uma presença mínima de usuários — menos de 15 pessoas, distribuídas entre as ruas General Osório e Helvétia.

O cenário marca a continuidade do esvaziamento iniciado no último dia 13 de maio, quando os usuários deixaram a região. Segundo a reportagem, a atuação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) também diminuiu consideravelmente.

O "fluxo" costumava ocupar um perímetro formado pelas ruas General Couto de Magalhães, dos Protestantes e dos Gusmões. Vias adjacentes, como as ruas do Triunfo e dos Andradas, também estavam livres de movimentação nesta terça.

Vídeos obtidos revelam que, na véspera do desaparecimento dos usuários, agentes da GCM foram flagrados agredindo pessoas na região. A Corregedoria da Guarda afirmou já ter identificado alguns dos envolvidos e que apura as ocorrências.

Dispersão e realocação

Após o esvaziamento do dia 13, parte dos usuários migrou para outras regiões da cidade. Em 14 de maio, mais de cem pessoas foram vistas na Praça Marechal Deodoro. Contudo, nesta terça (20), uma operação reduziu esse número para menos de 50. Grupos menores foram encontrados também na Rua Marcondes Salgado e no entorno do Terminal Princesa Isabel.

Vídeos obtidos  mostram agressões praticadas por GCMs entre os dias 10 e 12 de maio, com uso de cassetetes, spray de pimenta e força física. Uma das imagens mostra agentes se aproximando de quatro homens em um comércio e jogando spray de pimenta, seguido de agressões físicas.

Um comerciante, identificado como Valdeizo Fortunato de Lima, relatou ter registrado as ações com suas câmeras de segurança e afirmou ter sido vítima de ataques. "Eles jogaram spray de pimenta no meu comércio. Quando não dá certo, vêm com o cassetete mesmo", contou.

Desde 2024, uma decisão judicial proíbe a GCM de atuar com o mesmo poder de polícia da PM em ações na Cracolândia, vetando inclusive o uso de bombas de gás e balas de borracha.

Denúncias de violência

 Um usuário relatou ter sido ameaçado com uma arma apontada para a boca por um GCM. Ele também denunciou espancamentos, ameaças de morte e desaparecimentos de pessoas levadas pelas viaturas. “Levaram minha mochila, minha barraca, me bateram”, afirmou.

Comerciantes da região, que preferiram não se identificar, confirmaram os relatos e disseram que as agressões se intensificaram nas últimas semanas. “Eles não querem mais os usuários aqui no Centro. Se insistem em ficar, vêm com spray no rosto”, afirmou uma comerciante.

Segundo esses relatos, a ordem é para que os usuários se desloquem para áreas além da Rua Rio Branco. “Aqui não pode mais. Sexta começaram a barrar tudo. No domingo, já estava tudo limpo”, disse outra comerciante.

Estrutura removida e repressão

Até recentemente, a Cracolândia estava delimitada por um muro de cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura, construído pela prefeitura. À época, a Defensoria Pública classificou o local como um “curral humano”.

Para o promotor de Justiça Fábio Bechara, o esvaziamento do "fluxo" se deve ao desmantelamento de uma cadeia criminosa que sustentava o tráfico e a permanência dos usuários na área. “O dependente era uma vítima dentro de um sistema de exploração. Romper essa cadeia enfraqueceu todo o ecossistema”, afirmou.

Combate ao tráfico

Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), a ausência de usuários também é resultado das ações de combate ao tráfico na Favela do Moinho, incluindo a prisão de "Léo do Moinho", apontado como o principal fornecedor de drogas para a Cracolândia.

"Sem a presença da droga, é mais fácil convencer as pessoas a buscarem tratamento. Só ontem, 60 procuraram atendimento voluntariamente", disse o prefeito.

O que diz a prefeitura

Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou que a GCM desempenha um papel essencial na proteção da população e no combate à criminalidade, em parceria com as polícias Civil e Militar. A administração garantiu que eventuais condutas irregulares estão sendo investigadas e reiterou o esforço contínuo, desde 2021, para oferecer tratamento e assistência social às pessoas em situação de vulnerabilidade na região.

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