Jovem negro leva mata-leão de segurança após pular catraca da CPTM e perde dente

 Um jovem negro de 22 anos foi agredido por agentes da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) na noite de domingo (24), na estação José Bonifácio, da Linha 11-Coral, na Zona Leste de São Paulo. A abordagem violenta, registrada em vídeo, ocorreu após o rapaz ter acessado a estação sem pagar passagem. O caso levanta denúncias de racismo institucional por parte da defesa do jovem.

Matheus Dias, artista e MC, contou ao g1 que voltava de uma batalha de rap na Praça Brasil, em Itaquera, quando pulou a catraca da estação. Ele afirmou ter sido agredido com um soco no rosto por um dos seguranças logo após a entrada, sendo retirado do local. Minutos depois, amigos pagaram a passagem para que ele pudesse embarcar legalmente.

Ao retornar à estação, Matheus procurou o segurança que o havia agredido, pedindo sua identificação. Sem obter resposta, retirou um mapa de sinalização que estava descolado da parede, o que os agentes consideraram vandalismo. A partir daí, a situação escalou para uma abordagem física.

Segundo vídeos feitos por testemunhas, Matheus tentou resistir à imobilização com receio de sofrer um mata-leão. Mesmo sem reagir de forma agressiva, foi lançado ao chão por um dos agentes, que aplicou a técnica de estrangulamento pelas costas, deixando o jovem com dificuldades para respirar. Durante a ação, Matheus perdeu um dente e relatou ter mordido o segurança em um ato desesperado de defesa.

"Em uma maneira desesperada de soltura, acabo mordendo a mão do segurança. Ele me vira com o rosto no chão e aplica muita força, me fazendo quase apagar", afirmou o jovem. "A sensação é de impotência. O que mais vai ter que acontecer? Quem vai ter que morrer para eles mudarem?"

Defesa denuncia racismo institucional

O advogado de Matheus, Thiago Feliciano Lopes, classificou a ação dos seguranças como desproporcional e motivada por racismo institucional.

"Por mais que Matheus tenha pulado a catraca, isso não justifica um soco no rosto. Estamos diante de mais um caso em que um jovem negro é tratado com violência excessiva por agentes de segurança", disse o advogado. "Há um padrão de comportamento quando a pessoa abordada é negra."

Matheus passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) nesta segunda-feira (25). A defesa informou que vai acionar a Justiça tanto na esfera criminal quanto civil contra a CPTM e seus agentes.

O que dizem CPTM e Secretaria da Segurança Pública

Em nota, a CPTM afirmou que o jovem “praticou evasão de renda, danificou um mapa de sinalização e apresentou comportamento agressivo, causando ferimentos em um vigilante”. A companhia informou que repudia qualquer tipo de violência e que apura todas as circunstâncias da ocorrência. Disse ainda que poderá aplicar medidas administrativas caso sejam confirmadas irregularidades na conduta dos envolvidos.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) declarou que o caso foi registrado como dano ao patrimônio público e lesão corporal no 63° Distrito Policial (Vila Jacuí). Tanto o jovem quanto o segurança foram encaminhados ao pronto-socorro e, depois, prestaram depoimento na delegacia.

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