O número de vítimas de acidentes de trânsito que deram entrada no Sistema Único de Saúde (SUS) no estado de São Paulo aumentou de forma expressiva nos últimos dez anos. De acordo com dados levantados por entidades médicas com base em informações do Ministério da Saúde, o total de atendimentos passou de 157,6 mil em 2015 para 227,6 mil em 2024 — um aumento de 44%.
Somente entre 2023 e 2024, o crescimento foi de 8,2%, com um salto de 210,2 mil para 227,6 mil casos. As estatísticas foram divulgadas por meio de um estudo conjunto das Associações Brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e de Medicina de Emergência (Abramede).
Para especialistas, o cenário é preocupante. “O trânsito brasileiro representa uma epidemia silenciosa. Todos os dias, lidamos com vítimas de situações que poderiam ser evitadas, com consequências graves tanto no aspecto humano quanto econômico”, afirmou o presidente da Abramet, Antonio Meira Júnior. Já Camila Lunardi, que preside a Abramede, reforça que a crise exige envolvimento de toda a sociedade e do poder público: “Presenciamos de perto o impacto dessa tragédia nos hospitais.”
Impacto nos cofres públicos e no sistema de saúde
Segundo estimativas da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo (SES-SP), os atendimentos relacionados a acidentes com carros e motos geraram, entre 2023 e 2024, despesas superiores a R$ 130 milhões. Nesse período, mais de 118 mil pessoas foram atendidas, sendo mais de 109 mil vítimas de acidentes envolvendo motocicletas. Os casos com automóveis somaram aproximadamente 9 mil registros.
As ocorrências envolvendo motos também representaram os maiores gastos hospitalares, com destaque para a região da Grande São Paulo, onde os custos ultrapassaram R$ 47 milhões. Outras regiões com altos valores de despesas incluem São José do Rio Preto (R$ 9 milhões), Campinas (R$ 7,5 milhões), Sorocaba (R$ 7,4 milhões) e Taubaté (R$ 6,5 milhões).
Lesões graves e sequelas permanentes
De acordo com o médico Ricardo Wosniak, diretor do pronto-socorro do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, os acidentes de trânsito ocupam o segundo lugar entre as causas de morte externa no Brasil, atrás apenas da violência por armas de fogo. “A cada hora, cerca de 20 pessoas são internadas na rede pública por conta de traumas causados por acidentes, como fraturas, amputações e hemorragias”, destacou.
Wosniak também enfatiza a importância da prevenção e do uso de equipamentos de segurança como capacetes e cintos, além da necessidade de respeitar as normas de trânsito. “Acidentes podem causar sequelas irreversíveis, como paralisias e lesões cerebrais. Direção segura começa com atitudes conscientes.”