No vídeo é possível ver o momento em que o pai, Ricardo Reis de Faria e Vieira, sai de casa. Logo em seguida, uma vizinha também deixa uma residência ao lado. No final das imagens divulgadas, aparece uma viatura da polícia.
De acordo com o delegado Eliardo Jordão, os registros ajudarão a polícia a esclarecer detalhes sobre a dinâmica do dia do incêndio. A investigação também aguarda o resultado de laudos e é provável que Ricardo, que está preso temporariamente volte a ser ouvido.
“Essas imagens podem ser importantes no sentido de esclarecer a dinâmica dos fatos. Essas imagens serão analisadas dentro do contexto para a gente verificar os horários. [Vamos] Analisar essas imagens dentro do contexto para saber se há algo que possa ajudar no desfecho desse caso”, diz o delegado.
“É possível ouvi-lo [Ricardo] novamente ao longo desses 30 dias, bem como outras pessoas. Os próximos passos: esclarecer alguns pontos, por exemplo, se a porta estava fechada e quem que fechou. São alguns pontos que a gente precisa esclarecer. Esperando a vinda desses laudos, que são fundamentais, para a gente entender algumas situações”, completa.
O caso aconteceu na madrugada de quarta-feira (17), na casa em que Ricardo morava com os três filhos, Fernanda Verônica de 14 anos, Gabriel de 9 anos e Lorenzo Reis de Faria e Vieira, de 2 anos. O imóvel pegou fogo e os três irmãos morreram carbonizados.
O pai sobreviveu e foi preso temporariamente por 30 dias. Segundo a Polícia Civil, ele apresentou versões incoerentes sobre o que aconteceu naquela noite. Em nota, a defesa de Ricardo informou que a prisão temporária foi precipitada e que entrou com pedido de habeas corpus.
Ele compartilhava a guarda dos filhos com o ex-companheiro, Leandro, com quem viveu por quase 15 anos. Os filhos foram adotados pelos dois em 2014 e em 2019. Familiares relatam que as crianças tinham boa relação com os pais.
Quarto trancado e contradições no depoimento
Para a polícia, o mais provável é que o incêndio tenha começado no quarto onde as crianças dormiam. "Quando cheguei juntamente com a equipe, a casa toda [estava] incendiada. Realmente uma imagem muito forte, principalmente quando a gente ingressou no quarto dessas crianças onde os três estavam mortos naquele quarto. Aquela imagem que eu não queria ter presenciado, infelizmente aconteceu. Uma situação absurda", contou o delegado.
Segundo o delegado, o pedido de prisão temporária foi feito para viabilizar as investigações. "Só esclarecer aqui a prisão temporária não aponta, não acusa ninguém. É uma prisão processual, um instrumento jurídico para viabilizar a continuidade das investigações. Este foi o motivo em razão de algumas contradições que nós constatamos ao longo do dia", afirmou Jordão.
Entre as respostas que a polícia procura está o motivo para o quarto das crianças, que tinha grade nas janelas, estar trancado. "O bebê não era comum dormir nesse quarto. São algumas versões, contradições que ao longo do dia estamos checando. O quarto estava trancado, outro fato que temos que esclarecer, quem trancou e por que estava trancado?", pontuou Jordão.
Outra contradição é que Ricardo afirmou em depoimento ter ido até a janela, pelo lado de fora, após ter percebido o incêndio, mas que os filhos não estavam no quarto. Mas no momento do incêndio, ele foi até a delegacia, que fica a poucos metros da casa, pedir ajuda para arrombar a porta e dizendo que os filhos estavam lá.
Durante a tarde, a Polícia Científica e a Defesa Civil estiveram no local. Testemunhas foram ouvidas, incluindo familiares, vizinhos e agentes que atenderam a ocorrência. Ainda não se sabe a causa do incêndio. No final da tarde de quarta foi encontrado um celular no cômodo, que foi apreendido.
Comoção
O outro pai, Leandro José Reis de Farias e Vieira, que mora em Mogi das Cruzes, chegou ao local pela manhã e ficou desolado com o que encontrou. Familiares disseram que as crianças tinham muito amor pelos pais.
Segundo Maria de Lourdes Reis, tia das crianças, eles recebiam muito carinho dos pais. "Eles dois amavam as crianças. As crianças eram tudo pra eles. A gente não sabe o que aconteceu", disse Lourdes.
Gabriel e Fernanda foram adotados em 2014 pelo ex-casal Ricardo e Leandro. Em 2019, eles tambem adotaram outro bebê.
O delegado também ouviu informações positivas sobre a relação dos dois com os filhos. "Sempre foram exemplo de família. As crianças, educação ímpar. Sempre bem tratadas, criadas. Essas informações que a gente tem, não [são] só de hoje. Os relatos são os melhores possíveis".
Em 2019, a família chegou a dar entrevista para a filial da Globo em Mogi para falar sobre Adoção de crianças de casais homoafetivos. Na época, a filha mais velha expressou sua felicidade com os pais. "Não tem família certa ou errada. O importante é o amor", disse a menina.
Fonte G1